sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Páginas da minha vida!


                                                MANOEL GOMES DE MEDEIROS

        O  ano de 1929, transcorria com uma calma peculiar da região sudoeste do estado, e um homem cavalgando  em um cavalo baio chegava na pequena cidade, pretendia comprar terras naquela região e soubera através de grileiros que havia muita gente vindo para cá afim de se estabelecer, e era o que queria naquele momento, havia chegado de sua terra natal , deixado seus pais e irmãos para começar uma nova vida no interior de SP,e com grande ansiedade cavalgava já a passos largos quando avistou a pequena cidade, o pó da estrada havia deixado marcas em suas roupas, e tinha pouco tempo para conseguir um lugar para descansar aquela noite, havia viajado o dia inteiro sem encontrar uma alma sequer ao longo da estreita estrada que ligava o município de Campos novos,e a mata fechada era assustadora, não acreditava em assombrações, mas ora ou outra seu cavalo bem treinado assustava e queria desistir da viagem, mas ele era um homem determinado , seguia em frente.e por sorte avistou ao longe uma poeira que levantava e ouvia o barulho do berrante chamando a boiada ele apertou o passo e chegou a tempo de conversar   e ajudá-los na  lida com a vacada.

      O boiadeiro lhe contou que  a   boiada estava sendo   tocada com destino a Presidente Prudente, e depois de tanto cavalgar com o boiadeiro e  sua  boiada, chegaram na  Vila de Platina, enquanto a tropa  se arranjava e o gado colocado no curral, conseguiu tomar um bom banho no Rio Pari , e uma janta que um tropeiro de boa qualidade sabia fazer como ninguém, colocou suas traias de viagem  e depois de ouvir muita conversa dos boiadeiros, e ouvir o canto triste de uma viola, contanto as tristezas da vida, logo  arrumou sua capa de viajante de estrada e em seguida, já muito cansado deitou-  se e em seguida pegou no sono...


Outro dia

    O canto do galo acordou todos os boiadeiros , que muito depressa ajeitaram o café, para seguir viagem, Manoel agradeceu a hospitalidade dos homens e
chegou a cidade,  parou em uma venda para saber as novidades,e logo soube que havia um sitio para vender, muito prosa contou que estava trabalhando na construção da estrada de ferro Alta paulista e agora que havia terminado e com o que recebeu estava disposto a comprar uma propriedade rural e pretendia se estabelecer por aqui, e ali mesmo soube que um sitiante estava vendendo um sitio bem perto do pequeno patrimônio, maneira de dizer das pessoas quando se referia a uma pequena cidade não muito prospera, foi até lá e depois de muita conversa acabou por comprar o sitio e imediatamente batizou de Sitio Santo Antonio, era muito devoto do Santo e achou que daria sorte ter por padrinho do sitio um santo tão poderoso , o que tornou-se uma mania com o passar dos anos , já se estabeleceu num paiol velho, única benfeitoria do local.
   Trabalhador como era , começou a arrumar cercas e plantar um pomar, cultivar milho, algodão, café, teria com certeza um gado, compraria um touro com algumas vacas de leite, faria queijos para vender, teria porcos, galinhas e se possível até uma cabra e embalado nestes sonhos ,ele trabalhava como ninguém
e imaginava o dia que poderia trazer os pais para viver ali com tanta fartura, ele que tinha saído de sua terra natal por conta da grande seca de 1922, passavam fome , a família e o gado, animais domésticos havia morrido, até mesmo um sobrinho não sobrevivera a seca, mas agora com sua coragem em deixar seus pais e aventurar-se por terras férteis
   Logo fez amizade com os sitiantes vizinhos, Sr José Horacio, Sebastião Moreira,  Angelo Vitor, que nesses tempos ainda não era Angelim Barbeiro,
,filhos e genros todos rapazes, Manoel Abôbora entre outros  que juntaram-se e abriram uma estrada  de chão batido onde podia-se trafegar com cavalos e carroças...
   Era um desbravador!



PRIMEIRO CASAMENTO


   Manoel decidira que seria impossível atingir seus objetivos sem uma companheira que o ajudasse, e casou-se com uma descendente de italianos, muito bonita e trabalhadeira, e logo ela lhe deu um filho, Valdomiro que era a alegria da casa.
   Então decidiu que iria mascatear pela região, começou levando galinhas e porcos, depois frutas verduras e legumes, queijos, e já em 1932 , ia a Marília comprar tecidos, linhas, agulhas entre outras coisas para vender para a freguesia, era sempre recebido com entusiasmo pelos moradores das fazendas, que obtinham suas encomendas que levava semanas esperando-as.
   Manoel saia de seu sitio e ficava muitas vezes por 10 dias fora, levava as coisas que fabricava no sitio e ia pegando as encomendas dos fregueses das fazendas, e chegando em Marília  comprava e voltava com o carroção tocado a bois, lotado .
   Essa era a vida dele conhecido e respeitado por toda esta região.
   Felicidade dupla, seu segundo filho estava a caminho e teria só duas viagens a fazer antes do bebê nascer, pararia por uns dois meses e voltaria  a vida que tanto gostava...
   Mas não foi como esperava, sua esposa dera a luz a um menino, que recebera o nome de Antonio, criança já nascera mirradinha, e Rita Belasco não se recuperara do parto difícil, com a saúde abalada, dois meninos para cuidar, e Manoel já  não sabia o que fazer, uma vez que não tinha família aqui no estado e Rita só dependia dele , até que no outono de  mil novecentos e trinta e cinco,em uma manhã cinzenta e chuviscando, Rita desceu as escadas da casa e  chegou  até o porão com a intenção de torrar café , colhido ali mesmo na propriedade, pegou a torradeira e o café à ser torrado e subiu os degraus até a cozinha , onde o fogão já estava aceso desde as primeiras horas da manhã, o pequeno menino de pouco mais de um ano brincava no chão de madeira e o pequeno de 3 meses, dormia no cesto de taquara, e começou a torrar, uma tarefa das mais difíceis, pois o corpo fica muito quente com este tipo de trabalho que leva algumas horas, e de - repente Valdomiro seu primogênito, abriu a portinhola da cozinha que dava acesso a escada e  ela por impulso maternal correu em socorro do menino, e recebeu aquela chuva gelada no rosto afogueado pelo calor da torradeira, no mesmo momento teve um derrame ,e daquele momento em diante agonizou três dias seguidos, Manoel chamou as melhores parteiras e benzedeiras da região para salva-la, mas foi em vão, faleceu depois de muito sofrimento, deixando para trás o marido com 2 crianças para criar...

SEGUNDA GUERRA MUNDIAL




   As coisas iam de mal a pior, pois o pequeno Antonio de saúde delicada, piorara seu estado com a ausência da mãe e alguns meses depois veio a falecer, deixando todos atônitos com tanta tragédia
   Sem saber ao certo o que fazer, deixou o menino Valdomiro com uma família de sitiantes e depois de alguns meses , sua família chegou para assumir a casa.
   Eram seus pais Silvestre e Generosa, com seus irmãos .. todos jovens, ansiosos por trabalhar, neste período fora muito difícil a adaptação e com o passar dos meses decidiram ir para Marília a fim de conseguirem trabalho levando consigo o pequeno menino Valdomiro, uma vez que o sitio não tinha renda suficiente para tanta gente.E assim o tempo ia passando.
   Manoel continuou com sua vida de mascate, porém sua casa ficara meio abandonada, e ele mal tinha tempo de ficar na propriedade, sempre contara com bons amigos , sitiantes vizinhos que o ajudavam a cuidar e a tratar dos animais na sua ausência...
1939, Manoel soube que uma guerra havia começado, mas pensou que jamais chegaria ali, era longe demais, na Europa, teria que cruzar oceanos, até chegar ao Brasil, não chegaria pensou ele.
   Saiu pensativo depois da conversa que teve com Dr. Henrique ,Engenheiro, que viera do Estados Unidos , canavieiro, , chegou na nossa região no começo do século, casou-se e teve 1 filho com Dona Nenzinha e tocava a Usina com uma colônia de empregados , e Manoel era seu amigo de longa data, e sempre que voltava das viagens de negócios , passava na fazenda para ter um dedo de prosa com Dr. Henrique, homem muito alto, magro, com um abdômen bem avantajado, bom de prosa, e os dois ficavam horas na varanda da fazenda jogando conversa fora, sempre acompanhado de Dona Nenzinha que ora e outra servia um café para que ambos não desistisse da conversa, e falando de tudo surgiu a história da guerra.
   Manoel não sabia exatamente o que era uma guerra mundial, afinal ele havia completado 29 anos e já era viúvo, pai de dois filhos, um havia morrido ainda bebê e um filho de 4 anos que precisava de cuidados de uma mulher, sitiante, mas o mundo dele era pequeno, restringia só a Platina, e região, no entanto Dr. Henrique era Norte Americano, veio para o Ceará, para trabalhar e lá casou-se com Dona Nenzinha que era de família abastada , dono de usina de cana vieram para o estado de São Paulo e aqui compraram terras, e prosperaram na fabricação de pinga, e pensando em tudo isso, voltava calmamente montado no seu cavalo , imaginando nas conseqüências de uma guerra, possivelmente ele iria para a guerra, tinha idade para isso, quem iria cuidar de tudo para ele, caso fosse, o que seria do seu filho, das suas terras, pensou o quanto havia sofrido quando, com 15 anos sairia do Rio Grande do Norte a convite do Dr. Durval para trabalhar na construção da estrada de ferro, o quanto fora difícil ficar longe dos pais, era um menino ainda, mas obedeceu os conselhos da mãe e tinha medo que ficasse no sertão e acabasse como ela, a seca já era conhecida dos seus avós e sua mãe sabia que seria sempre assim, lembrou-se de seu irmão Tiago que tinha problema na voz e a mãe fizera uma promessa a padrinho Cícero que se o menino sarasse ela o mandaria para o Seminário para ser padre, e assim foi quando seu irmão mais velho completou 15 anos a mãe arrumou as poucas coisas que tinha e colocou o menino na caravana que ia ao  Ceará ,com destino ao seminário onde ficaria e nunca mais se soube dele, devia ser padre, ele dois anos mais novo, longe de todos, agora assumia as responsabilidades sozinho.
   A estrada poeirenta, ele olhou e viu todo o trabalho que tinha feito na abertura da estrada, casou-se, teve filhos, a esposa morrera de derrame e ele agora só. Pensou :"tenho que tomar uma providência". Vou casar-me de novo e esta ideia amadureceu nos 4 km que ainda faltava para chegar no sitio, de longe observou as mangueiras  que havia plantado a 6 anos atrás, carregada de flores, o bananal lindo como ele só, a horta produzindo tanto que mal dava conta de vender tudo na região, as vacas de leite, os animais de lida, o ribeirão passando tranqüilo na divisa,a galinhada ciscando no quintal, e havia decidido que no dia seguinte iria encontrar uma esposa, uma mulher trabalhadeira,  prestimosa...
   Tudo o que faria era ir na casa do compadre  Manoel Abóbora e comadre Emilia, eram sitiantes vizinhos, um português de temperamento bom e prestativo, que morava do outro lado da Água, mas seria no dia seguinte, hoje estava por demais de cansado e tudo o que queria era descansar e não pensar mais na guerra.
   Levantara cedo naquele dia, os primeiros dia de março, começara indicando um outono frio, uma friagem nas primeiras horas da manhã indicava isso,
mas bem disposto, tomou um bom café , tirou leite das vacas, tratou das galinhas, já com o pensamento fixo de que naquele dia teria que arrumar uma moça para casar, tarefa difícil, uma vez que uma moça de boa família não casaria as pressas como desejava, entraria o inverno já casado, ia remoendo estas dúvidas na cabeça, e colocou o arreio no cavalo , e partiu em busca do seu intento, com um sorriso maroto nos lábios, pensou consigo mesmo: vou voltar noivo! e deu uma boa gargalhada.
   Manoel foi na casa do compadre saber onde havia uma moça trabalhadeira em idade de se casar , pois estava disposto a arrumar uma esposa para que cuidasse de suas coisas. O compadre riu com tamanha barbaridade, mas conhecendo Manoel , como conhecia não tinha dúvidas sobre isso e indicou umas três moças que talvez quisesse se casar, animou-se e foi, pediu uma em casamento no bairro do Matão, o pai disse que consentia, mas teria que esperar um ano, ele agradeceu e foi no Bairro da Faxina e lá encontrou a outra e pediu em casamento que de pronto o pai aceitou o pedido, mas que não seria de bom tom, casar-se tão depressa, teria que ser em um ano, para fazer enxoval, preparar-se para o casamento, foi até o Bairro do Mombuca e lá encontrou uma família que tinha duas moças em idade de casar-se .Apeou do cavalo, sentou-se num toco de arvore na entrada da casa e começou uma prosa animada com o homem e seu enteado, conversa vai e conversa vem , ele  falou que estava querendo casar e soubera através de um compadre que ali havia uma moça para casar e viera com a intenção de pedi-la em casamento. As mulheres dentro de casa ouviam  tudo, uma vez que a casa era feita de taipa, coberta com sapé, um tipo de capim apropriado para cobertura de casas. Dona Balbina sorriu um sorriso contido, afinal casaria a filha mais velha  moça de saúde delicada ,portadora de deficiência intelectual leve, um peso para uma mãe e olhando pela fresta da parede olhou percebeu que era um homem ainda jovem, bem apessoado e pela conversa lá fora , tinha bens e seria o marido que cuidaria de sua filha, enquanto isso, lá fora a conversa progredia, quando Manoel disse que tinha interesse em se casar e tinha por objetivo pedir a mão da filha em casamento, mas teria que ser no máximo em 30 dias,uma vez que ele tinha muitos compromissos de negócios e não havia tempo para namoro, noivado e casamento, João o padrasto sentiu-se afrontantado, onde já se viu tamanho disparate,casar uma moça de família em trinta dias, afinal as meninas eram de família, só uma moça perdida se casaria neste tempo, e mesmo que fosse perdida com certeza não moraria mais debaixo deste teto, uma discussão calorosa surgiu, vozes alteradas, aquele homem havia passado dos limites, e Sinhá Balbina saiu para acalmar os ânimos, diante da figura austera da  senhora , os homens ficaram em silêncio e ela disse que não consentiria, que as meninas era fruto do seu casamento anterior , que o pai havia falecido de gripe espanhola e que o filho Joaquim era responsável pelas irmãs, e que seu atual marido padrasto das meninas decidiriam e voltou e entrou na casa tão rapidamente quanto saiu, e a conversa voltou ao tom normal, mas Manoel não era do tipo que desistia assim tão fácil, insistiu na conversa e disse-lhe que pensasse na proposta, que era um homem prospero, viúvo, com um filho para criar e tinha boas intenções, e com seu jeito característico de ser, despediu-se , montou no seu cavalo e com um aceno de chapéu foi-se.O pequeno grupo se juntou para debater o assunto, uma vez que aquele homem de temperamento alegre e conversador poderia bem ser o futuro genro.E tinha dinheiro e terras!!!. mas assim mesmo seria um falatório na região, todo mundo ia falar, as meninas nem poderiam mais sair de casa com tanta vergonha.Enfim Sr  Manoel
deixou os moradores daquela pequena casa atônitos com tamanho desproposito. Nem tanto! exclamou Sinhá Balbina, e disse a eles, que era a única chance de casar a Maria, afinal ela era a mais velha e tinha  aqueles problemas de saúde, e sabia fazer todo o trabalho de casa e seria a oportunidade de vê-la casada e ninguém iria reparar, por conta da deficiência, achou até que teve muita sorte em encontrar um homem tão bom, as meninas ouvirão aquilo e ficaram estupefatas, afinal Maria sendo a mais velha tinha o dever de casar primeiro e Braulina  quando espiou pela fresta da parede, assim como fez sua mãe, achou aquele homem velho, e agradeceu por ser mais jovem, lembrando que quando estava na roça no dia anterior já estava de olho em um companheiro de serviço, e esta conversa rendeu todo o dia...


SEGUNDO CASAMENTO





   A semana transcorreu tranqüila , mas uma ansiedade reinava no ar, naquela manhã enquanto varria o quintal, Sinhá  Balbina , pensava o quanto tivera sorte em casar sua primogênita, afinal quem cuidaria da Maria quando morresse, era uma preocupação constante, ninguém teria paciência com ela, tinha um temperamento difícil, e por vezes um tanto agressiva, mas bem conduzida poderia ser uma boa esposa, enquanto isso Manoel visitando uns amigos contara-lhes de seu intento em casar com a filha da Sinhá Balbina, e os homens sentados a sombra de uma arvore, riram -se todos e disse-lhe:
Qual das duas você pediu em casamento? Manoel respondeu de pronto, como assim? tem duas ?  Perguntou: Sim duas a Maria do  Carmo e a Braulina !       Manoel praguejou, hábito muito comum na época por homens de todas as idades, afinal ele não perguntou quantas filhas a Sinhá Balbina tinha, , qual era o problema , ele queria casar e que importa quem seria!.Os amigos disseram: Bom !  a  Maria é meio doente , tem dificuldades na fala, e não é muito inteligente, mas a Braulina é mais nova ,e muito trabalhadeira, trabalha na roça desde menina por empreita, e ajuda a mãe na casa, essa sim é uma mulher trabalhadeira.
   Manoel deu um pulo, montou no cavalo sem ao menos se despedir e foi num trote só, para a casa da Sinhá Balbina, quando chegou, vermelho como uma beterraba, não se sabia ao certo se era pelo calor ou pela raiva de imaginar que poderia ser tapeado por uma senhora parteira, apoiou do cavalo e Dona Balbina estava só com a Maria em casa e adiantou-se para atende-lo e ele depois de cumprimentos rápidos foi direto ao assunto, perguntou-lhe sobre a filha Braulina, e Sinhá Balbina perguntou o que queria com a moça, ele mais que depressa disse que havia pedido sua filha para casar, mas só tinha interesse na Braulina e se não fosse assim não haveria casamento.
   Pronto! a discórdia havia se instalado.
   Sinhá Balbina disse-lhe de jeito nenhum, a Maria é a mais velha e tem que casar primeiro, depois ela não arruma mais casamento e a discussão se prolongou por um bom tempo, até que Manoel que já estava de mau humor encerrou o assunto e disse que só se casaria se fosse com a Braulina.E que voltaria no sábado  para conversar com os homens da casa e em desabalada carreira montou no cavalo e foi-se...
   O sábado chegara com nuvens pesadas no céu, parecia um dia agourento, estava no outono e tinha pressa em casar e aquela gente ignorante estava pensando que ia passá-lo para trás, só não desistia por dois bons motivos, a palavra empenhada e o casamento que era seu objetivo principal, tratou de arrumar as traias da lida diária, cuidou da alimentação dos animais, arreou seu belo cavalo, e muito pensativo, seguiu lentamente por aquelas estradas poeirentas que tanto conhecia, toda a animação do começo da semana, havia se esvairido completamente, como era difícil arrumar uma esposa nestes dias, quando chegou na estrada principal, virou a esquerda rumo ao bairro da Munbuca, não estava muito animado, mas palavra é palavra e havia dito que iria , seja lá qual fosse a resposta daquela gente.
   Começou a descer uma estradinha mal conservada, e logo avistou a casa de Sapé, muito bem rebocada de barro fresco, recém coberta com sapé novo, como bom observador que era, achou que havia reforma na casa, esperava que poderia ser feito uma boa reforma na cabeça daquele povo e sorriu.
   Desceu um pequeno caminho até a casa, não havia porteira e já encontrou os dois homens sentados no mesmo toco de arvore e achou que talvez nem tivesse saído dali, amarrou a rédea do cavalo num palanque de tronco de arvore e cumprimentou os dois , que levantaram e com um aceno de chapéu convidou-o para sentar, seus olhos azuis eram tão claros que os dois homens chegaram a crer que não era bom das vistas, e Manoel já foi tocando no assunto uma vez que estava de mau humor e não estava para conversa mole, mas João e Joaquim , padrasto e enteado, não demonstrava nenhuma pressa, até que  Manoel entrou na conversa e perguntou da resposta do pedido de casamento entre ele e Braulina,  Joaquim o  irmão das meninas , disse que era tradição casar a mais velha primeiro e que portanto seria Maria a noiva, Manoel empacou e disse ou a  Braulina ou terá casamento...
   Joaquim entrou na pequena casa e confidenciou com a mãe e depois de um tempo, começou a fazer um cigarro de palha, olhava de esgueio para Manoel enquanto este estava numa boa prosa com João, terminou o cigarro, pigarreou e disse: Nos concorda com o casamento, o Sr pode dar andamento nos papeis e nos arruma as coisas por aqui. Manoel não acreditou, estava estupefato, gente estranha , uma hora não quer , outra já quer, despediu e foi embora rapidamente para ajeitar os documentos para o casamento que seria o mais rápido possível.
   Animado e feliz passou na casa do compadre Manoel Abôbora  e Dona Emilia para contar as novidades, tamanha era a euforia que trocava as palavras, depois de tanta conversa, os compadres perguntaram você conversou com a moça? gostou dela?. Manoel ficou mudo, afinal ele não pediu para ver a noiva, nem imaginava como era, sim mas todos diziam que era trabalhadeira e isso era o que importava, ele respondeu que não, que nem a conheceu, pois a Sinhã Balbina não permitiu que as filhas  olhasse o homem no quintal para conhecê-lo.
   O compadre disse-lhe que era mal sinal, iam aprontar a Maria e no dia do casamento na igreja , não tinha direito a arrependimento, e ele teria que se casar de qualquer jeito ou seria uma desonra para ela e para a família e uma afronta pessoal para os homens da casa.
   Manoel ficou em choque, que coisa! quando tudo parecia que daria certo , lá vem outra encrenca, almoçou com os compadres e voltou na casa da Sinhã Balbina, chegou desconfiado , mas não era homem de se deixar abater e foi logo ao assunto, voltei para conhecer a noiva, eles entreolharam-se e sem ter o que fazer trouxeram a  Braulina para que se conhecessem e nos 20 dias seguintes tudo estava pronto para o casamento....
  

                      

      DIA DO CASAMENTO-28-5- 1939


   A missa era as 8 horas da manhã e o casamento seria realizado pelo padre  logo depois da missa, Manoel chegou só no seu cavalo baio muito bem arreado, e um outro cavalo pronto e em frente a igreja amarrou os dois no mourão da cerca e entrou para assistir a missa e esperar a noiva, que demorou um pouco uma vez que a Água da Munbuca ficava mais distante da cidade, o atraso compensou , pois ela chegava numa charrete que o Sr João Marcilhano, o padrinho fez questão de trazê-la, assim que desceu pegou no braço dela e levou-a até o altar onde o Padre celebrou o casamento, ninguém percebeu o quanto a noiva estava contrariada com aquele casamento, nem ao menos fora consultada sobre o mesmo.
   Braulina  era uma moça de uma família muito tradicional, pobre, porém gente de uma honestidade a toda prova, e em tempos de crise financeira sua mãe e irmão não  pensaram duas vezes em casá-la com o primeiro homem que tivesse uma situação financeira boa, e o Manoel tinha, ela só o tinha visto uma vez antes do casamento, tudo o que lembrava dele é que era magro e tinha uns olhos azuis de azul mais claro que o céu em dias de primavera, era tudo o que sabia daquele homem...
sentiu uma magoa profunda da mãe, magoa que carregou a vida toda, mas não podia fazer mais nada estava casada com um homem dez anos mais velho que ela, viúvo e com um filho que não conhecia, não era essa a vida que sonhara, mas queria ter o direito de escolher o próprio marido, já que não conhecera o pai Fermino que morreu em 1919 de gripe espanhola com 25 anos de idade e sua mãe estava grávida dela, mergulhou nestes pensamentos mórbidos e enfim o padre disse estão casados, e Manoel deu o braço a ela  e juntos sairão da  Igreja Matriz de Platina.Quando saíram  da Igreja os parentes e amigos cumprimentavam o casal e Manoel levou-a até o palanque em frente a Igreja onde estava amarrado seu cavalo e o outro animal que havia trazido ajudo-a a montar e rumaram para a  o Sitio Santo Antonio de propriedade de Manoel, chegaram ao sitio e ele mostrou a nova casa, sua antecessora morara ali por quase 3 anos,era um paiol que havia sido adaptado para uma casa, era de pé direito muito alto, embaixo guardava carroças e utensílios da propriedade, e podia ver que porcos corriam de lá para cá, dividindo espaço com as galinhas e patos, subiram os 15 degraus e entraram em uma pequena cozinha,onde tinha um fogão a  lenha com varias lasca de paus catados em uma mata fechada logo acima da casa, uma mesa que o próprio Manoel fizera assim que casara com Rita Belasco e umas vasilhas fruto do seu casamento anterior, e pela qualidades das vasilhas por certo à muito uma mulher cuidara daquela casa, não tinha enxoval, pois viera de uma família pobre, tudo o que tinha era dois vestidos de algodão barato que a mãe fizera muito rapidamente a tempo para o casamento.
   Olhava com cuidado tudo o que havia naquele cômodo, quando Manoel a trouxe para a realidade, disse-lhe : faça o almoço que estou com fome, aí está as vasilhas e o arroz na lata e o feijão já deixei cozido antes de ir para o casamento, já matei um frango e depenei e está temperado é só cozinhar e saiu para apartar os bezerros.
   Um tempo depois voltou, almoçou, e foi ver umas novilhas para comprar, pois tinha encomendas na Fazenda Conquista, e só a noitinha voltou e disse-lhe amanhã volto a mascatear, você cuida de tudo e quando chegar vou trazer uma maquina de costura....

           
                NOVA VIDA


BALBINA  MARIA  DE  JESUS



   Braulina era uma moça de 19 anos, 1,60 de altura, magra, e tinha uma beleza única, seus olhos castanhos e cabelos pretos realçava com a pele bem clara,   sua família vieram de Minas Gerais  na época da abolição dos escravos, as minas de ouro e esmeraldas estavam em decadência e toda sua família migraram para estas bandas , na esperança de dias melhores, eram agricultores e trouxeram dinheiro com a venda das terras , e junto com muitas outras famílias saíram com carroções puxado a bois , e durante meses, descendo a serra seguiram pela estrada real,passaram por Piquete uma pequena cidade situada no sopé da  Serra da Mantiqueira, no  Vale do Paraíba, continuaram a estrada real por Guaratinguetá com seus coronéis e com aquelas terras ricas as margens do Rio Paraíba do Sul ,passando por Aparecida ,cruzando os cafezais rumo a Taubaté, onde pararam por vários dias, depois de mais de um mês de viagem, alguns já estavam desanimados com a longa jornada   rumo a terra prometida pelos mineiros, foi uma viagem dolorosa,uma vez que muitos nasceram e morreram nesta jornada,  e continuaram pelo rio Tietê, seguindo a trilha da Serra da Cantareira, acamparam por vários dias em Sorocaba para comprar mantimentos e entrar na mata fechada do Estado de São Paulo, dali em diante era uma aventura, não teriam mais lugar para comprar mantimentos e ainda teriam que enfrentar tribos indígenas, e havia muitas mulheres e crianças, teriam que viajar sempre prontos para eventual batalha...
   O líder do grupo Coronel Nogueira, distribuía os víveres a todos de acordo com as necessidade, e pernoitava sempre a beira de rios, que aos montes havia naquela região, 3 meses se passaram desde a saída do Sul de Minas, as mulheres estavam por demais de cansada e as crianças morriam mordida por mosquitos e na maioria das vezes quando febre atacava a caravana parava para velar mais um morto, e como a tradição mandava, velava no chão duro e ali mesmo cavavam uma sepultura e debaixo de prantos era deixado para trás, só com uma cruz improvisada indicando que ali havia uma pessoa...
   A viagem prosseguia mais lenta agora, pois a mata fechada tinha que ser aberta com machados, foices e facões, e os carroções tinha dificuldades de passar, e o tempo mudara, nem perceberam que havia mudado de estação, era verão e chuvas torrenciais começavam de repente e por vezes ficavam atolados no lamaçal e  impedidos de continuar....
   As mulheres da caravana rezavam terços para que conseguissem chegar a esta terra, pois tudo o que tinham pela frente era floresta, a noite ouviam os animais selvagens perto do acampamento e perdiam o sono por conta das crianças e havia ainda a superstição que as acompanhariam por toda a vida, alma penada, lobisomem, caipora, saci entre outras coisas, e rezavam muito para se proteger destas coisas.
   Chegaram a São Manoel  no final de 1888, com chuvas torrenciais e a caravana mais uma vez estava parada a duas semanas, não podiam prosseguir, tamanho atoleiro nas beiras dos rios e além do mais tinha as cheias dos rios, que transformava tudo em um banhado ,alguns decidiram ficar ai mesmo e tocar a vida e meus avós com o resto da caravana seguiram viagem até as margens do Rio Pari onde montaram acampamento e fizeram a divisão daquelas terras do Estado, que  não tinha dono, cada um que escolhesse sua gleba de terra e se ajudariam a construir uma nova vida, da nascente do Rio Pari até o Rio Paranapanema.Eram terras férteis,de cor avermelhada,não conheciam este tipo de terra ,uma vez que vinham de terras montanhosas  de Minas Gerais.
   Foi feito uma divisão  de acordo com tamanho das famílias, e meus avós assumiram o Rio Quati até o Rio do Sapé, mais ou menos uns 250 alqueires,e começarão a trabalhar imediatamente, cortaram arvores frondosas e fizeram casas de madeira de lei e cobriram com sapé, um tipo de capim utilizado pelos índios para cobrir as casas, e foram se ajeitando, as sementes que trouxeram foram semeando e não demorou muito já colhiam tudo para sobreviver, e as sementes de arvores frutíferas já estavam em tempo de produzir, não havia terras como estas diziam os homens, e as encrencas que havia entre eles eram decididas na lâmina da faca...
   E ali nas terras nova, Sinhã  Balbina cresceu e tornou-se -se uma jovem trabalhadeira, a mãe Barbara pretendia casá-la com o primo Fermino e assim que completou 16 anos o casamento se realizou  e ganharam um casal de negros como presente de casamento, estes vieram com eles por ocasião da Abolição,  A vida cotidiana de forasteiros naquela região inóspita do Brasil continuava, não era só os mosquitos que matavam, também as mulheres morriam de parto sem socorro algum, o luto era guardado conforme a tradição mineira . Um ano , depois disso os homens já arrumavam uma outra companheira, trabalhavam de sol a sol e uma mulher fazia parte da vida domestica.  Sinhã Balbina Maria de Jesus não se sabia ao certo porque colocaram este nome, deve ser por promessa feita pelo seus pais por algum motivo desconhecido,ela era da família Batista Jeremias, e pertencia a uma família numerosa,sua mãe Maria Barbara Batista  Jeremias e seus irmãos Manoel , Jeremias, Helena ,Umbelina,Antonio e Joaquim e seus tios avós Manoel Pedro, Joaquim Pedro, Antonio Pedro, Claudina Pedro,  vieram de Pedra Branca, Minas Gerais e assim que estava em idade de se casar, já havia sido prometida ao primo Fermino Ferreira Ribeiro, que com sua família e seus irmãos Francisco, Antonio, e Basilio, Joaquim Paiva Ribeiro, Maria Virgem e Jeremias Pedro Batista originário de Tijuco Preto,Santa  Cruz da Pedra Branca- MG, casou-se e foi morar na Água da Mumbuca e lá nasceu seus filhos  Joaquim em 1913 , e dois anos depois nascia Maria do Carmo e, como Balbina era parente muito próxima de Fermino a criança com o passar do tempo já demonstrara uma ligeira deficiência intelectual, era lenta para pensar, mas era perfeita de corpo, Sinhá Balbina agradeceu a Deus por isso, menos mal, em 1919 a gripe  espanhola chegou , não se sabe ao certo quem trouxe, mas as pessoas contraiam a gripe e logo morria e assim Sinhá Balbina grávida de seu terceiro filho viu o marido ficar doente e no final de 5 dias estava morto, sem saber porque ele com tanta saúde perderia a vida por conta de uma gripe...
   Os vizinhos não lhe serviram de nada pois todos tinham medo da doença que já havia matado mais pessoas naquela região, arrumou como pode seu marido ainda jovem com apenas 25 anos dentro de um caixão de tabuas feito ali mesmo no sitio e levou-o para o cemitério com pouco mais de 10 pessoas da própria família, voltou desolada para casa, como faria para criar as crianças e mais aquele que tinha na barriga, por certo morreria também assim que nascesse, quatro meses se passaram desde o velório de Fermino e em uma tarde quente de final de outubro Braulina nascia, era uma menina sadia, sua mãe Barbara fizera o parto e viu o quanto a menina era bonita, foi criada com fartura, até que a 1ª guerra mundial apareceu por aquelas bandas, ouvirão falar de que soldados estavam atacando os sítios e levando tudo o que tivesse de alimentos e ela não foi poupada, levaram porcos , galinhas e viveres de toda espécie, deixando-os sem nada, só não fizeram mal as mulheres por  conta de ficarem no mato escondida até que deixassem de ouvir barulho dos saqueadores. Sinhá Balbina achou por bem arrumar um marido para proteger-se e a seus filhos e casou-se com João Paião, homem muito bonito de olhos azuis e bem apessoado, e começou a trabalhar na propriedade com o enteado Joaquim, mas pouco faziam e eram tempos ruins, faltava tudo e Sinhá Balbina  engravidou de uma filha , assim nasceu Maria  da  Cruz Paião e  dois anos depois veio Benedito  Paião.






BRAULINA  FERMINA  MEDEIROS


                                                                        VIDA DE CASADA


   Segunda feira era um dia comum para qualquer camponês, e a vida de Braulina começara cedo,era o primeiro dia em toda a sua vida que dormira longe da mãe, especialmente com um desconhecido que agora era seu marido, incompreensível para ela, mas levantou-se as 4 horas da manhã para fazer o café e o almoço que Manoel levaria para comer na estrada, estava escuro e ascendeu as lamparinas e preparou uma comida da qual não estava acostumada a fazer e Manoel orientou-a  como deveria fazer, comida forte, com  batata doce e farinha de mandioca, arroz , feijão, carne de sol , ajudou-o a arrumar as tralhas de viajem , e ele seguiu sem ao menos dizer quando voltaria, quem sabe em quinze dias...,
afinal agora não teria mais que se preocupar com nada, tinha uma mulher para cuidar de tudo, e as referencias dela eram ótimas, então para que se preocupar e foi cantarolando uma canção de infância, certo de que seus problemas acabaram....
   Braulina subiu as escadas do velho  paiol, que hoje servia de casa e foi finalmente conhecer a casa, estava só com seus pensamentos, acabou de lavar a louça numa tina de madeira e colocava as louças lavadas em uma bacia de alumínio , que servira também para dar banho nas crianças da falecida, enquanto isso  lá fora a passarinhada já cantavam em alto e bom som, avisando que o dia clareava e ela mais que depressa pegou os latões de leite e foi para a mangueira ordenhar as vacas, trabalho esse que já estava acostumada a fazer na casa materna, porém, as vacas eram  bravas, difíceis de pear, amarrar as pernas traseira foi um custo,porém conseguiu a muito custo tirar leite e levou para dentro para ferver e fazer  coalhada e queijo, orientação do marido, desceu a escada e foi tratar das galinhas e dos porcos , e regar a horta que o marido tinha um carinho especial, avisando-a que não esquecesse da horta.
   A tarde  deu uma boa espiada na casa por dentro, na parede de madeira da sala, tinha um retrato pintado da falecida, observou e admirou a beleza européia da mesma, no centro da sala havia uma mesa de madeira  quadrada , que comportava 8 pessoas com cadeiras reforçadas, luxo que não conhecia,e foi até o quarto que dormira sua primeira noite de casada, arrumou o colchão que era de palha nova, afofou bem até que ficasse bem alto, colocou os lençol, e os travesseiros  preenchidos de taboa, um tipo de planta achada nos banhados da região, ajeitou bem e olhou com atenção aquele quarto que fora da falecida , a cama , os lençóis, travesseiros e teve uma  visão mórbida de que ali ela havia morrido, era supersticiosa  e um temor passou-lhe pela cabeça, mas o que fazer, teria que enfrentar corajosamente aquela nova situação,e pensou que a noite viria com certeza e ela estaria sozinha por muitos dias...
   A semana demorou para passar, no sábado de manhã  fez todo o trabalho de costume e foi buscar água no ribeirão que passava no fundo da propriedade a fim de lavar aquele chão que à muito não via água e sabão, trouxe alguns latões de água , subiu a escada a muito custo, era uma mulher de baixa estatura e o serviço pesado demais, mas continuou esquentou a água no fogão a lenha  com sabão feito em casa e adicionou um pouco de soda caustica e lavou até a madeira voltar a cor original...
   O vento soprava forte e aquela friagem da lida do dia havia deixado ela com um aspecto muito cansado, mas terminou as tarefas de casa e foi descansar. a noite estava clara e já fazia uma semana que estava completamente só e amanhã era domingo e o marido quem sabe chegaria, não pensou muito nisso, pois nem o conhecia direito, no dia seguinte do casamento ele já fora viajar para mascatear pela região, lugares que não conhecia, iria trazer o menino e uma maquina de costura e imaginou como seria, por mais que quisesse imaginar não conseguiu, e pegou no sono, tudo o que ouviu naquela noite foi  uivos de animais da mata e nada mais.
   O dia amanheceu já com o galo cantando nas primeiras horas da manhã e mais que depressa saltou da cama, arrumou ligeiramente  a cama  mexeu bem as palhas de milho  que fora recheado o colchão e os travesseiros de taboa, um tipo de capim que nasce nos banhados, retira-se e deixa secar e fazem travesseiros , estavam pesados demais e pensou que qualquer hora desta iria fazer novos travesseiros, e imaginou que aqueles ainda era da falecida, olhou em volta e viu a arca de madeira onde guardava os cobertores e os lençóis que foram da falecida, riu-se , e foi ascender o fogão a lenha para fazer um café e comer um pão amanhecido que era guardado dentro de uma lata de banha, e um pedaço de queijo, lembrou-se de sua mãe neste momento e pensou que aquilo era um banquete na casa de sua família, mas não havia tempo a perder, tinha que ordenhar as vacas , tratar das galinhas e porcos e socar arroz no pilão para semana toda.
   Terminou as tarefas da manhã e entrou para fazer o almoço , quando ouviu uma cantoria que vinha da pequena estrada da propriedade e seu nome  era gritado em tamanha altura que chegou a crer quer alguém estava ficando louco, saiu a janela e viu o carroção puxado com duas parelhas de boi , um pequeno menino em cima, todo sorridente e Manoel coberto da poeira da estrada , cantando e falando alto, coisa nova para ela, vinha de uma família de gente que falava manso e calma, risada e estardalhaço não era o forte da família dela, afinal de contas era de família de Minas Gerais, povo calmo e de fala mansa e sorriu também, desceu as escadas e Manoel já perguntou do almoço, se tinha matado um frango, o que tinha para comer, eram tantas as perguntas que ela não conseguia mais se lembrar da primeira pergunta.
   O pequeno menino Valdomiro subiu as escadas correndo sem cumprimentá-la, e Manoel  gritava para que viesse ajudá-lo, descarregou a carroça e foi até a beira do rio para se lavar, tamanha a fome que sentia, ela preparou o almoço e juntos almoçaram pela primeira vez depois de casados, Manoel  disse para o pequeno Valdomiro que essa mulher que ali estava era sua segunda mãe, coisa que não foi aceita por ambos.O tempo faria o resto...

                                           MAQUINA DE COSTURA

    Braulina trabalhava muito e Manoell mal parava em casa e o menino era muito travesso, e tinha que correr atrás dele o dia inteiro, e sonhava o dia que teria seu próprio filho, agora já com a maquina de costura, sua sogra veio visitá-la para explicar como fazia para costurar naquela engenhoca, e foi assim que nasceu a Braulina costureira...
    Generosa uma senhora de estatura pequena, com olhos azuis muito claro de aparência bondosa, descendente de holandês, era uma sogra muito boa, desmanchou uma calça de Manoel com uma gilete e colocou o tecido em cima da mesa da cozinha ela roupa toda descosturada em cima do tecido novo
e prendeu com alfinetes todas as peças desmanchadas e com uma tesoura começou a cortar, e depois alinhavou a calça e comparou as medidas, e costurou para que ela entendesse, calça pronta, aí veio a camisa e depois de pronta , depois um vestido e acabando-se todo o ensino que durou 15 dias voltou com Manoel para Marília, com a promessa que traria bastante costura para ela fazer, até aquele momento ela não havia entendido nada, casou, aprendeu a cuidar de um sitio, costurar e agora mãe de um menino seu enteado e esposa de um homem singular, sem preconceito, amigos de todos, gostava de viajar e não bebia , não fumava e não gostava de jogar cartas, seu único objetivo era  trabalhar e cantarolar e dar boas risadas, e falar palavrões, coisa abominável para ela.


GENEROSA GERACINA DANTAS MEDEIROS


   Generosa era uma mulher baixa magra, cabelos louros , que mantinha comprido como mandava o costume da época, seus olhos azuis eram encantadores,e era casada com Silvestre Gomes de Medeiros , seu primo em primeiro grau, assim como seus pais nasceu em Caicó no vale do Seridó, região árida do sertão potiguar, era filha de Manoel Inocêncio de Medeiros e Tereza Mara de Jesus,e tinha uma família numerosa,seus sogros Basilio Gomes Silva  Dantas e Francisca Ubelina de Medeiros, nasceram também em Caicó, ambos de família tradicional, seus avós vieram de Portugal e receberam aquelas terras do vale do Seridó do Rei de Portugal,  cá se instalarem com suas família e permanecem até hoje. na década de 20 seu filho Manoel veio para São Paulo a convite de Dr Durval para construir a Estrada de Ferro Alta Paulista,e quando ficou viúvo pediu que toda a família viessem cuidar do sitio e de seu filho Valdomiro, mas pouco tempo depois casou-se com Braulina e a família ficaram em Marília onde não faltava trabalho, e agora estava passando duas semanas no sitio com o intuito de ensinar Braulina a costurar.



CRENDICES POPULAR

1940-

    Manoel  estava casado a poucos mais de 8 meses e o verão estava por demais de quente, como era de seu temperamento, resolveu de uma hora para outra que iria viajar, Braulina não acostumada com este tipo de coisa, não aprovava as atitudes do marido , porém obedecia, e ele decidira que iria rever os amigos em Marília, era uma viagem à passeio, o primeiro em toda a vida de Braulina, ela completara 20 anos em outubro e  Manoel quis levá-la e foram de charrete, ficaram o dia inteiro viajando,  Marília fica a uns 80 km de Platina e era uma viagem dificil, passando por matas virgem, muitas vzs só uma trilha pelo caminho usado por boiadas vindo da região d aalta Paulista.
             Platina e Manoel levou dois cavalos extras , para esta viagem, pois pretendia dormir em Marília, viajaram o dia inteiro, chegaram altas horas da noite na casa da mãe, que recebe-os muito bem, descansaram aquela noite e assim que acordaram, Manoel disse ao pai Silvestre que pretendia ir a São Paulo visitar uns parentes que haviam chegado do Nordeste, e seu pai iria também.
   Manoel havia esquecido por completo da 2ª guerra que havia começado, na verdade ele nem acreditava muito nesta guerra, ninguém falava mais nada e ele deu o caso por encerrado, e dois dias depois embarcavam no trem rumo a São Paulo.
   Desceram na estação da Luz com o dia  já velho, como dizia naqueles tempos, e foram para São Miguel Paulista e lá ficaram uns dias, e como era do feitio dele decidiu levar Braulina na praia e os três foram para a praia de  Zé Menino em Santos, viagem de lua de mel acompanhado pelo sogro, que anos depois era contando com risos pelos familiares.
   Hoje posso imaginar a vergonha da minha mãe de maiô perto do sogro!!!.

                   A  Guerra -  1942
    Chegaram desta viagem com os rumores da 2ª guerra, todo mundo em São Paulo estava assustados, os jovens ansiosos para entrar nas forças armadas e ir lutar, esse assunto deixou Manoel meio  ansioso e não quis ficar muito tempo fora de casa, ele ouvira falar que o Brasil cedo ou tarde entraria na guerra e achou melhor voltar, assim que chegou começou sua rotina de trabalho e Braulina um pouco mais confiante resolveu abrir aquele baú, esse baú era o da falecida e ela tinha curiosidade de ver o que havia dentro dele, esperou Manoel viajar e foi dar uma boa espiada, abriu e logo encontrou muitos tecidos guardados  a espera de ser feito, uma dor passou por seu coração de menina jovem, ainda sem filhos, tirou cuidadosamente e embaixo achou uns vestidos , combinação e algumas roupas de bebê,  guardou-os e fechou novamente á espera do dia que daria aqueles tecidos a  alguém,










   Braulina havia se casado a mais de 3 anos e não engravidava, acreditava que era estéril, pois Manoel tinha dois filhos do primeiro casamento e o problema não era ele, talvez o trabalho demais, e a vida dura do tempo de solteira tenha feito mal e agora ela queria filhos. Havia o menino Valdomiro com 8 anos que era muito travesso e deixava ela com os nervos a flor da pele, tinha um temperamento difícil, era brava por natureza e não pensava duas vezes para dar uma bela surra no menino, que a cada dia ficava mais revoltado,quando um certo dia o Sr Manoel Abobora apareceu bem cedinho no sitio , bem na hora de ordenhar as vacas, ajudou Manoel a fazer o trabalho, fez um cigarro de palha e com muito jeito , disse que havia sumido um canivete do paiol dele e que Valdomiro é quem havia tirado. Manoel ficou roxo de raiva, mas controlou-se e disse que ia saber direito desta questão, chamou o menino e perguntou e o menino ainda de calças curtas sentiu que poderia morrer se não contasse a verdade e disse que ia buscar, pois estava escondido no mourão da porteira,enquanto isso Manoel foi buscar o rabo de tatu, um tipo de chicote para pegar gado no pasto, esse tipo de chicote emite um som seco e o gado obedece bem a este barulho, e podia ser usado para castigar pessoas.
   Braulina tremeu de medo na cozinha, o marido era de um temperamento bom, cuidadoso com o filho, amava aquele filho, não seria capaz de castigá-lo com um rabo de tatu, e começou a rezar, sabia que o menino era terrível, ela mesma já havia dado umas boas coças nele, mas nada como aquilo, Valdomiro chegou devagar com o canivete na mão, Manoel pegou-o pelas mãos que eram pequenas ainda devido a pouca idade,segurou com força mais do que o necessário e desceu uma trilha até o ribeirão que dividia o sitio com o Sr Manoel Abobora, atravessou o riacho e chegaram na casa do homem, e obrigou o menino a devolver, pediu desculpas e voltou para seu sitio.
   Braulina nunca havia visto o semblante do marido com raiva , entrou em baixo da casa onde guardava as traias de viajem e pegou o rabo de tatu e deu uma surra daquelas no menino, no começo era choro, depois os gritos de dor e Manoel lembrava-lhe de que aquelas chicotadas seriam a primeira e última que daria nele, pela vergonha que havia passado.
   Braulina morrendo de medo , mas desceu a escada e pediu que parasse pois podia matar o menino, Manoel parou e chorou e Braulina levou Valdomiro para dentro e curou o menino com compressas de sal, e depois de uma semana, sem falar com ninguém, Manoel pediu que arrumasse as roupas do menino que iria interná-lo em uma colégio interno em Marilia.
    Braulina ficava só de novo e ansiava para Deus lhe dar um filho, até que um dia Manoel chegou com duas garrafas que havia pedido para um curador fazer
  para que ela emprenhasse e disse-lhe que tomasse direitinho que o curador garantiu que faria efeito, e fez, antes de terminar a primeira garrafada ela ficou grávida...



SEU PRIMEIRO FILHO



   Estava grávida, a felicidade era completa, jamais ficaria só , teria um filho para cuidar e uma companhia que jamais a abandonaria,fato que aconteceu até a sua morte. Quando chegou a semana do parto Balbina veio ficar com a filha, afinal era parteira e benzedeira, e era o único recurso que as mulheres da região tinha,as dores do parto começou de madrugada e entrou pela manhã, e o desespero de Manoel aflorou, lembrou-se de sua falecida esposa que sofreu muito do seu último parto e acabou falecendo, a tarde o sofrimento continuava e ela não tinha mais forças e Balbina pediu a Manoel que apertasse com um lençol torcido empurrando o bebê para baixo , assim forçaria o nascimento e realmente a criança nasceu antes da noite chegar, Braulina cansada demais e enfraquecida desmaiou e a custa de muitas rezas e orações restabeleceu daquele parto difícil, e era uma mãe prestimosa e assim que o pequeno Antonio desmamou com poucos mais de um ano, Braulina ficou grávida de uma filha que recebeu o nome de Maria do Carmo em homenagem a irmã mais velha que estava para se casar e que seria a madrinha de batismo da menina, que recebeu o apelido de Nena pelo irmãozinho Antonio 2 anos mais velho.


SUA IRMà MARIA DO  CARMO

   Maria do Carmo era a irmã 2 anos mais velha que Braulina, e tinha uma deficiência mental leve, tinha um temperamento difícil, e Manoel na época do casamento rejeitou-a por conta disso,e Sinhã Balbina ficou desanimada,até que um dia seu filho Joaquim apareceu muito entusiasmado em sua pequena casa de sapé e disse-lhe que um homem em Platina havia ficado viúvo e que tinha 3 filhos e que talvez se houvesse um boa oferta ele se casaria com a Maria do Carmo, lembrou-se da Braulina e disse-lhe que ela já estava bem, que o marido era muito bem de vida e que bem poderia dar a parte da herança da Braulina para inteirar e casar a Maria, e assim foi, fizeram o acordo com o viúvo e Maria estava as véspera de se casar. Seu noivo que ela também não conhecia receberia por dote terras, vacas, porcos e ele aceitou de pronto, marcaram o casamento e da mesma forma como Braulina,  Maria iniciou sua vida de casada e nove meses depois nascia sua única filha Aparecida que assim  como  a mãe também nasceu com um problema mental.


           DOIS  IRMÃOS

    Antonio  era um menino moreno, bonito e forte, mas calmo e sossegado, o pai  Manoel  não gostava de pessoas com este temperamento, queria um filho ligeiro no trabalho, mas a mãe o protegia do serviços, e naqueles tempos um menino de 8 anos já trabalhava no campo, tratava das galinhas , tinha as tarefas a fazer, mas era demais de sossegado e Braulina para não ver os gritos do marido acabava fazendo estes pequenos serviços, já  Nena  era uma menina linda com cabelos louros e cacheados, olhos verdes boca pequena demonstrando que seria de poucos amigos  , tinha um temperamento terrível, beliscava, mordia quem quer que seja, não gostava de ser contrariada e era irascível, deixando marcas no pai e na mãe,quando brincava no pequeno jardim da casa era para fazer sepulturas onde cobria com as flores apanhada ali mesmo no jardim, o que deixava seus pais pensativos..., tinha uma saúde de ferro,os vizinhos diziam que o que tinha de treteira tinha de magreza...

           CASA NOVA


    Braulina estava grávida outra vez, e agora sem muito animo, queria um filho e agora já tinha uma ninhada, pensou no quanto trabalhava e cuidando de crianças grande e pequenas e ainda costurava  e a gravidez era um incomodo para ela, sem médico para ajudá-la e seu parto sempre muito difícil, o cansaço
era evidente no seu rosto, e Manoel feliz com o termino da guerra, resolveu fazer uma casa nova , achou  que era pequeno o paiol que servia de moradia para eles, arrumou as tabuas e assoalho , telhas e contratou um carpinteiro e mãos a obra, a casa teria que estar pronta antes da criança nascer, e assim foi,
duas semanas antes do parto Braulina transportou toda as coisas para a casa nova , que tinha   3 dormitórios bons uma boa sala, com mesa grande e a cozinha bem arejada com um fogão a lenha e um forno para assar  pães.
   Fez na maquina de costura uma toalha nova para por sobre a mesa e arrumou um vaso de flores colhidas no canteiro de rosas e o velho baú  da falecida ela esqueceu de propósito, não queria mais ver aquele baú em quanto existisse, mas a foto pintada da falecida,  foi  a primeira coisa que Manoel tirou do prego onde havia sido colocado a mais de 10 anos e chegando na casa nova, escolheu um novo lugar onde  pudesse  por  o  quadro da  finada Rita Belasco.
e permaneceu até a morte de Manoel, Braulina ficava muito nervosa com este defeito de seu marido, afinal ela  morreu a tanto tempo, que mania de guardar o quadro, o que nunca foi motivo de brigas entre eles, uma vez que Braulina tratava-o de Sr, por conta de ser ele muito mais velho,e não discutia porque sempre perdia mesmo.
    A primeira vez que foi lavar o assoalho apareceu uma mancha vermelha no chão, jogou soda, esfregou, secou e nada , a macha estava lá, quando Manoel chegou perguntou sobre o que seria aquela mancha, depois de muito examinar, disse-lhe que aquelas tabuas da sala era do paiol velho e que havia faltado e ele retirou de lá e usou na sala, e que aquela mancha talvez seria do homem que morreu  matado no paiol antes de comprar o sitio, e Braulina ficou assombrada, e disse-lhe que idéia foi essa de por esta tabua na casa, ele deu uma boa risada e disse que não acreditava em assombração.
                                                       


                                                           SEUS  11  FILHOS



    O dia do parto chegou e o menino sem muito trabalho veio ao mundo e logo recebeu o  nome de Pedro, era um menino lindo, louros com pequenos fios de cabelos cor de ouro,e uns olhos claros que diziam que seria da cor do olhos do pai, Braulina se recuperou rápido, e o menino a cada dia ficava mais bonito, e ela olhava os 3 filhos com admiração, mas todos tinham problemas de saúde, quando não era uma coisa era outra, Pedro tinha umas cascas  na cabeça que não sarava, a Nena era mirradinha, e  Antonio continuava o mesmo, sem muita coragem para nada e com o apoio da mãe descansava na velha mangueira e dormia.
    Braulina ano sim ano não tinha criança nova em casa, e desta vez era José, menino lindo de saúde, forte assim que completou 3 meses, o pai ficou louco por ele, todos os dias ele achava uma parecença com alguém da família, ora era com a mãe, ora com a irmão, ora com ele próprio, e era um luxo só com o rapazinho, e como Braulina costurava bem nesta época, sempre chegava com cortes de tecido para fazer roupas para os filhos, mas começou um período ruim para Braulina, seu filho que nasceu logo depois de Zezinho morreu antes de nascer, e como era de esperar foi terrível para ela, passado pouco mais de 8 meses engravidou de uma menina que Manoel colocou o nome de Aparecida , em homenagem a Nossa Senhora de Aparecida, por quem era devoto, e como a menina era de uma beleza surpreendente , com os olhos do pai, uma beleza incomparável, foi até a Fazenda do Dr Milton Pyles e convidou para padrinho da menina, e o convite foi aceito com a promessa que ela seria professora como a madrinha Maria Clara, e Cidinha foi criada por Manoel e Braulina  muito mimada, sempre com a expectativa de mandá-la paraa escola a fim de cumprir a promessa feita ao compadre, e ela crescia em beleza e formosura, e outra filha morreu com o mal de sete dias e Manoel decidiu comprar uma chácara na cidade de Platina, afinal Cidinha já estava com 2 anos e meio e logo teria que colocá-la na escola, Braulina engravidou novamente e os preparativos para   mudança deixava ela com os nervos a flor da pele, as crianças brincavam o dia todo no pequeno jardim do sitio, onde dálias floriam , copos de leite, roseiras, cravos de defunto com seu cheiro peculiar,e outras flores foram plantadas por Braulina na ocasião da mudança , e agora deixaria tudo para trás, inclusive o baú da falecida que ela tratou de botar fogo, na primeira oportunidade em que Manoel estava fora, coisa que ele nem percebeu por conta da filharada, era um homem brincalhão, e risonho, falava muito alto , e os vizinhos sempre sabia de todos os seus projetos sem que fosse necessário contar a alguém . rss
    Nesse tempo Manoel contratou uma família para trabalhar no sitio, como Braulina tinha muitos afazeres, não dava mais conta de tudo, e a mulher deste homem por nome Maria, era um tipo bem preguiçosa, vivia de porta em porta o dia inteiro trazendo conversa e levando, Braulina que era treteira por natureza
estava grávida e tinha uma antipatia gratuita pela mulher, e um certo dia ela estava socando arroz no pilão e a Tal Maria apareceu para conversar, e ficou olhando , Braulina se enfezou e deu uma outro socador para ela , a fim de que a ajudasse, nunca mais ela apareceu para conversar, mas seu cunhado João irmão de seu marido estava morando com eles para a colheita de algodão e na hora da janta, soprou no ouvido de Braulina que Manoel estava de olho na tal da Maria. Braulina virou uma onça de brava e maquinou a noite inteira como ia pega-la.



                                                                       1953


   No outro dia já com a barriga aparecendo , por conta da gravidez , inventou de fazer rapadura, colheu a cana, tirou o caldo e começou a fazer a rapadura, neste momento a Tal Maria ia descendo a trilha do ribeirão  e teria que passar ao lado de Braulina, mas João desconfiou da cara  da cunhada quando tomou o café de manhã e achou que algo estava no ar, e ficou na espreita, a mulher quando ia chegando Braulina levantou a pá com melado quente com a intenção de matá-la ou vai saber o quê... João deu um grito e ambas as mulheres olharam e  a tempo a tal Maria correr e depois disso Manoel achou por bem mandá-los embora , sabendo que não ia dar certo mais aquela vizinha. ...

                                                                     




Eu Maria Antonia Gomes Dantas de Medeiros .

No dia 26 de maio do ano de dois mil e treze, encontrando-me no pleno gozo das minhas faculdades mentais, eu, titular desta conta no Facebook, declaro, para quem interessar e em especial para a empresa administradora do Facebook, que os
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O Bog  ENCANTOS-DE-MARIA5@WEBNODE.COM  Tambem está incluido nesta resolução aqui postada.





                                Minha Historia-   SONHOS

Ontem acordei de manhã, e lembrei-me de um sonho.
Meu marido havia batido a caminhonete de frente com um carro pequeno que acabou dando perda total,
No sonho eu comentava com ele como iríamos pagar o carro do rapaz, ele disse-me que o seguro pagaria e acordei.
Quando meu marido acordou falei para ele sobre o sonho e disse-lhe que tomasse cuidado, pois era um sonho premonitório,
A tarde antes de ir a cidade fiz uma oração de proteção  e fomos, na volta em uma curva uma saveiro em alta velocidade veio em nosso encontro, rodopiou na estrada de terra e por questão de sorte não bateu de frente conosco.
lembrei -me  do sonho e das orações que fiz a SÃO MIGUEL ARCANJO  , para nos proteger de todo o mal.
Muito obrigada Santos Anjos meus queridos protetores, Amem.


                                                        Sonhos

    Quando o Papa João Paulo ll , estava doente eu sempre estava penalizada pelo sofrimento que estava passando,
    Naquela noite tive um sonho por volta das 6 horas da manhã,  no sonho eu ouvia os sinos da igreja badalando e
a  Bandeira do Vaticano sendo hasteada a meio pau, como minha cidade é pequena talvez nem tenha a bandeira do Vaticano,  eu disse :  Meu Deus o Papa morreu, e acordei e corri para a TV ,certa de que ele havia  morrido, mas as  noticias eram as mesma, quando foi a 10 horas da manhã  eles anunciaram a morte do Papa.
    Desde então oro por ele todos os dias como meu intercessor no céu.

                                                MEMÓRIAS DA MAMÃE


  
            Eu ficava encantada  com as histórias que meus familiares contavam, em noites de inverno rigoroso,onde nós  podíamos ouvir histórias de assombração,sentados na borralho do fogão, enquanto um café feito pela manhã estava sempre quente,e um pão feito em casa podia ser comido a qualquer hora .
            Meu pai havia viajado como sempre fazia ,negociava por toda aquela região e não tinha dia para voltar e mamãe ficara para cuidar do sitio e da pequena família, era 1950, só tinha 3 filhos e muito trabalho, já que as crianças eram muito pequenas, seu ultimo filho era um bebê, o trabalho era muito duro, tinha que fazer café , ordenhar as vacas ,socar arroz no pilão, torrar café tratar das galinhas e dos porcos,lavar roupa no ribeirão que passava na divisa da propriedade e tirar água do poço para fazer todo o trabalho, e ainda achar um tempo para costurar roupas para as vizinhas.
            Mas era uma mulher com muita capacidade laborativa .Aquele dia fora um dia muito tranqüilo, uma vez que meu pai não estava e ela poderia ir para cama mais cedo ,a noite estava muito escura por conta da lua minguante e decidira que não ia costurar, trancou as portas com ferrolhos de madeira , muito comum nesta região, e foi para a cama, as crianças já dormiam quando entrou no quarto, verificou a janela, podia ouvir o barulho dos animais silvestre  que tinha em abundância na região ,apagou a lamparina que ficava em um canto no alto da parede de madeira, e foi apalpando até chegar na cama ,onde o colchão era de palha de milho, usado por todos, ricos ou pobres .
            A casa era de madeira de peroba rosa muito comum aqui, e era bem alta para comportar um porão onde guardava carroças, e outros utensílios da lida diária.
            Não tinha nenhum perigo pois naquelas bandas não passava ninguém, e ouvia o ressonar das crianças e assim conciliou o sono.
            A certa hora da noite acordou com o ranger da janela se abrindo, quando uma luz verde iluminou o quarto e algo entrou e ficou do lado do bebê que não acordou, ficou ali por alguns instantes e saiu devagar e a luz se foi , ela estava como pregada na cama tamanho o terror que sentia, mas levantou-se tateando pelo quarto até a lamparina e ascendeu e olhou tudo estava como havia deixado quando fora dormir,a noite fora longa para ela, de lamparina acesa passou a noite acordada assombrada com aquele evento.
            Muitos anos se passaram desde então , mas ficara vivo na memória aquele ser de cor esverdeada que entrou no quarto.
            Nós seus filhos nascidos depois deste evento nunca duvidamos da mamãe, hoje talvez alguém dissesse que era seres de outro planeta, ou um anjo visitando a família.
Minha mãe era muito religiosa, mas também supersticiosa!
Ficou um ?
                                                                                                                                       25-05-2013

                                                        Memórias do Papai

Essa é uma História real de muitas familias do sudoeste Paulista, e um memorial a minha mãe e meu pai que foram pioneiros nesta região.

Braulina Fermina de Medeiros - Manoel Gomes de Medeiros - Silvestre Gomes de Medeiros
1940-Viagem à praia de José Menino- Primeira viagem de Braulina.

Manoel Gomes de Medeiros - Braulina Fermino de Medeiros - Balbina Maria de Jesus (1940)
         
     Manoel Gomes de Medeiros -Braulina Fermino de Medeiros  e Balbina Maria de Jesus.         

     Silvestre Gomes de Medeiros - Manoel Gomes de Medeiros - Aparecida do Norte (SP)  (1940)
É uma pena que estas fotos foram recortadas, afinal era históricas para as gerações futuras.
 Braulina Fermina de Medeiros - Maria Antonia Gomes Dantas de Medeiros
  
        Tia Maria:                                                                                          Maria do Carmo Medeiros :                          

 

Pedro Gomes de Medeiros:

Jose Gomes de Medeiros

                                                                                                                                       26/05/2013