CRONICA DE UMA VIDA SÓ
E SUA TRAGETÓRIA SOLITÁRIA PELO MUNDO.
... noite fria, acabei de tomar um banho, quando o telefone tocou, fiquei surpresa, pois nunca toca ao anoitecer, atendi sem muita vontade, mas do outro lado da linha, uma voz suave ao telefone dizia que minha prima acabou de te um AVC, demorei em absorver todas as informações que me passava,voltei no tempo e imaginei o que podia ter acontecido, afinal ela fazia tratamento psiquiátrico há muitos anos, mais de quarenta anos, desde que sua única filha faleceu subitamente e desde então nunca mais ficou boa, seu casamento manteve-se por anos, meu primo sempre foi um bom marido , homem de temperamento calmo, casou-se em 1960 e depois de um ano morando no sitio na Água do Taquaral, mudaram para Assis onde viviam felizes com sua pequena filha, um dia de repente a menina ficou doente e faleceu, deixando-os sem chão, desde então ela começou a ter desmaios e quando levada ao médico ele passou remédios de uso controlado. percebendo que ela não melhoraria, teve a brilhante idéia de ir tentar a vida em SP, e conseguiu emprego e construíram um patrimônio e viveram dentro do possível bem, uma vez que ela era por vezes agressiva, e sempre com os desmaios , não podendo ser deixada sozinha em hipótese nenhuma, e uma vez aposentado decidiram voltar para Assis, eles apesar dos anos que viveram em SP, mantiveram os mesmos costumes de pessoas do interior, chegando a Assis compraram 2 boas casas, em lugar aprazível e que em qualquer tempo que decidissem vender estas propriedades teriam valor de mercado, e assim foi, o tempo passou e visitavam os amigos antigos e novos que foram fazendo, é um animador de festas sertanejas com suas estórias engraçadas e boa de ouvir,. Seu cunhado morreu subitamente e pouco mais de 6 anos depois seu outro cunhado , que era de grande apoio no trato com a também faleceu, ela se tornou uma pessoa mais irascível, e não suportando mais aquele temperamento que com a idade avançada a fazia ficar mais agressiva, decidiu pedir a separação.
médico Psiquiatra de Assis que acompanha o tratamento dela, achou por bem interná-la, mas quando saiu voltou a ser agressiva com ele e agora estava separada, e com mais de setenta anos, morando só, a depressão se instalou de vez, estava magra, tem pouca estatura e começava a ficar corcunda, sua boca já tinha perdido a estabilidade ,por conta de medicação forte sua pele muita clara pela falta de tomar sol e o temperamento difícil bem característico na nossa família, contribuiu para este desfecho, o peso da idade e do sofrimento, do abandono familiar, dos amigos, seus pais não existem mais, sua mãe também tinha dificuldades motoras, foi cuidada até o final da vida pelos enteados que a trataram com muito carinho e cuidados, porém foi criada um tanto mimada e depois o marido nunca teve a autoridade necessária para cuidar de uma pessoas com tantas deficiências, perdida nos meus próprios pensamentos ouviu uma porta se abrir e a enfermeira nos convidou a entrar, ela está na unidade de tratamento semi intensivo, e achei que estaria quase morta, uma vez que soube que os vizinhos não a viram naquela manhã, e na hora do almoço e nenhum movimento na casa, tocaram a campainha e nada, ligaram para ela e o telefone tocou varias vzs até o final e nada,foram até ao restaurante onde fazia as refeições e não estivera lá também, alguém resolveu procurar o seu ex marido para que ele entrasse no imóvel para ver se estava tudo bem, ele recusou e chamaram o sobrinho que mora no sitio, distante 40 km . Diante da demora e já eram 4 horas da tarde , os bombeiros vieram socorrê-la e não encontrando ninguém responsável por ela
levaram-na só .E agora meditando sobre isso entrei na sala para ve-la estava em um pronto socorro com o rosto retorcido pelo AVC, com um coagulo no cérebro, quando entrei na sala, quase não acreditei que fosse ela, parecia muito menor do que era, fragilizada, a boca estava torta, aproximei-me da cama de hospital, fazia muito frio e um cobertor já bem surrado a cobria, imaginei que talvez pudesse estar sentindo frio, estava com os olhos semi cerrado e perguntei se estava me ouvindo, emitiu um som incompreensível, mas insisti, disse-lhe o meu nome e ela abriu um pouco mais os olhos e aproveitei aquele momento e ofereci para fazer uma oração e consentiu com a cabeça, depois da oração fiz perguntas básicas para saber até onde o AVC havia afetado.
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Lembrei-me de seus familiares quando ainda viviam, como eram felizes, as festas , os almoços, os encontros na varanda do sitio, as piadas que seu irmão hoje falecido contava, a calma absoluta do seu outro irmão José que era uma pessoa maravilhosa, os velórios que ela fazia questão de ir, não importava quem fosse, iria sempre de qualquer jeito, passava horas olhando para algum ponto do infinito, perdida nos próprios pensamentos, e o marido do lado sempre puxando um cochilo, era um casal diferente, tudo o que lhes restaram foram os velórios e as festas nos sítios, até que um dia não se sabe como e nem por que seu marido depois de quase cinqüenta anos de casado, cansou-se daquela vida , arrumou outra mulher , abandonou-a e casou-se novamente,
ela lutou com todas as forças para que voltasse, mas ele cansou-se do temperamento dela, queria ainda ser feliz, merecia isso e ela apesar dos anos terem se passado continua certa que um dia ele voltará,e agora jaz doente e desconfio que seja irreversível seu estado, mesmo que melhore ela jamais voltará a ser como era, provavelmente terá que ter uma acompanhante permanentemente que atenda todas as suas necessidades.O que mais me alegra é que apesar de tudo o deixa-a bem, com uma casa muito boa em Assis , fruto do trabalho dele em SP, nunca dependendo dos pais da Cida, sempre foi independentes, até mesmo com a morte de seu pai , ela foi misericordiosa com seus meios irmãos , dividiram tudo em partes iguais, coisa rara hoje em dia em se tratando de herança, benificiou os irmãos de forma muito maravilhosa, e agora sua metade da herança que lhe restou apos a separação com o , dá uma renda razoável para ela, não nescessitando de viver só.E agora está aqui neste leito de hospital sem saber que destino terá quando sair. Seus moveis de boa qualidade, sua casa que tanto trabalharam para ter, agora está sem a sua moradora, seus gatos , bichos de estimação, que tanta amava e que mesmo com AVC , não se esqueceu de lembrar-nos de alimentá-los, lúcida, porém com parte do corpo agora comprometido, ainda pensa nos únicos seres que eram de fato seus companheiros...
Quando deixar o hospital, onde irá morar ? Quem cuidará dela? Não precisa ir para uma casa de repouso , uma vez que tem família e tem bens para mante-la na própria casa com uma cuidadora habilitada e supervisionada pela família.
por Maria Antonia G.D.Medeiros
CRÔNICA DE OUTONO
É uma manhã de outono, muito frio, 2 graus, mas o dia prometia,um clarão indicava que o sol sairia em poucos minutos e preparando o café da manhã olhava para o milharal que está seco, pronto para a colheita, e mais ao longe aprecio o gado pastando, tentando encontrar algum capim verde, coisa rara depois de tantos dias com geada, o capim mato grosso bem resistente nesta região, agora seco e os fazendeiros tratam com silo, dá pena de ver, algumas vacas de leite comem erva e morrem antes do dono ter tempo de salva-la, se é que se salva, pensando nisso continuei minhas tarefas da manhã, e saí na varanda para apreciar a paisagem, um frio bateu no meu rosto e fechei o zíper da blusa , e enrolei melhor o lenço no meu pescoço, que neste momento já estava gelado.
Caminhei sobre a relva gelada e senti que havia caido uma geada leve, e continuei a minha caminhada matinal,passei pela parreira de uvas e percebi que os primeiros brotos surgiam e imaginei que teremos boas uvas neste natal, subi a curva de nível que dá acesso ao pomar , onde tem a trilha dos decretos, fiquei com saudades de Deus, ali eu faço sempre meus mantras,por duas horas caminho cantando e louvando o SR Deus do Universo, oro sempre por todos, especialmente pela humanidade que precisa do nosso amor fraterno, oro pelos meu filhos, que recebi de Deus com a incumbência de cuidar e educar, tarefa difícil , porem não impossível, percorri aquele caminho tão conhecido apreciando as flores das laranjeiras com seu perfume pungente, até espirrei, tamanho o odor de flores de laranjeiras, algumas abelhas já beijavam cada flor a procura do néctar das flores, avancei na minha caminhada e cheguei até o pé de manga que também estava bem florido, desci novamente a curva do lado oposto da casa e cheguei ao imenso gramado que dá acesso a casa, com suas flores abundantes e coloridas, as rosas com seus lindos cachos, a cerca viva linda o ano inteiro com o hibiscos rosa e vermelho, uma emoção quando parei para observar o coco da Bahia que acabou de aparecer um belo cacho de pequeninos coquinhos, fiquei surpresa com a beleza dos coqueiros, parecia que fazia anos que não passava ali, mas sempre passei ali, é que todas as vezes algo novo na natureza me surpreende, uma revoada de maritacas barulhentas , ansiosas para comer o milho e soltamos uns rojões com a intenção de assustá-las e conseguimos nosso intento, um casal de João de barro correndo contra o tempo a fim de fazer uma casa no poste do lado da casa, a primavera está próxima e o tempo de chocar os ovos está chegando, caminho mais um pouco e avisto a casa sólida no seus alicerces, feita com amor por nós, bela e altiva com a trepadeiras coloridas subindo pela pilastra da varanda estendendo-se pelo telhado dando um aspecto de antiguidades, guardando naquelas paredes muito amor e calor humano.
pássaros de Primavera
A revoada de patos silvestres chamou minha atenção, é o segundo ano que passam por aqui na primavera, chegaram antes este ano, o inverno continua a mostrar sua cara inflexível, com temperaturas baixas todas as manhãs, mas eles chegaram, indicando que os dias começarão a esquentar, e olhando para o céu percebo que nuvens pesadas caminham ligeiramente cortando os céus, com pressa , nuvens escuras se misturam com pequenas aberturas de sol e a tarde começa com um frio determinante, porém com seus dias contados, aprecio o inverno, mas no final da estação , ansiamos por dias ensolarados e quente, temos sempre uma brisa que sopra do Paraná que é muito agradável, e aproveitamos estes momentos para fazer a "ciesta" da tarde.
Mas hoje é um dia especialmente maravilhoso, podamos algumas roseiras velhas , para que no verão elas estejam já bem floridas, limpamos todo o pomar retirando as folhas secas do inverno e abrindo clareira entre as frutíferas, elas sempre nos agradece dando frutos gostosos e saudáveis, e uns pássaros mais atrevidos aproximam-se para comer alguns insetos entre as folhas, um sorriso contido aparece nos lábios de Irineu, fazendo gestos nervosos para que eu observe, são lindos! Olho novamente para o céu e percebo que nuvens escuras estão cada vez mais perto, indicando talvez as primeiras chuvas da primavera, são chuvas brandas o bastante para molhar a terra o bastante para plantar a soja, estamos a apenas 20 dias da primavera e estas chuvas são muito bem vinda para nós agricultores que dependemos de uma boa chuvarada para semear.
Os cães estão latindo e olhando para a estrada principal , um cavaleiro passa tranqüilo em seu cavalo num trote macio, sem muita pressa, e fico a imaginar como seria bom se tivéssemos um bom cavalo para cavalgar, como antes fazíamos, mas são sonhos, hoje só precisamos de trator e de um bom carro de lida, os tempos mudaram e a tecnologia chegou e abandonamos todos estes prazeres que tínhamos outrora, agora tudo o que nos resta são aviões sobrevoando as plantações, passando adubo, veneno..., e os animais foram substituídos pelos tratores, os homens do campo foram para a cidade, e os lindos campos antes tão cheio de vida com casas de madeira onde sempre havia um bule de café no fogão que nunca se apagava, crianças nascendo sem a preocupação de como alimentá-las, sempre havia uma horta e galinhas no quintal, um chiqueiro de porco, que se retirava, tudo desde a gordura para a alimentação e a carne substanciosa, o cavaleiro vai longe, mal posso vê-lo agora, mas a saudades dos tempos onde éramos todos felizes e unidos.
Caminho de volta para casa e quando chego perto da entrada percebo que as bananas que havia deixado para os pássaros havia sido consumida totalmente e com um sorriso contagiante entrei....
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Maria Antonia@